Lama da Samarco, tragédia anunciada

O desastre ambiental provocado pelo rompimento da Barragem do Fundão, da Mineradora Samarco, em Mariana (MG), no dia 5 de novembro, ainda está em curso. A onda de lama contaminada com mercúrio, arsênio e ferro arrasou a comunidade que tinha cerca de 600 moradores. Cerca de 30 trabalhadores estavam no local na hora do rompimento. Morreram 17 pessoas (duas estão desaparecidas).

Prejuízo natural incalculável

Laudo preliminar do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) mostra que os rejeitos de lama atingiram 663 quilômetros de rios, o que resultou na destruição de 1.469 hectares de vegetação, incluindo Áreas de Preservação Permanente. No distrito de Bento Rodrigues, 207 das 251 edificações (82%) ficaram soterradas.

Ainda não é possível afirmar como será o processo de recuperação, pois o desastre está em curso. O Ibama monitora os parâmetros de qualidade da água e avalia que espécies foram mais atingidas. Para o instituto, mais importante que a recuperação da água é a recuperação dos ecossistemas afetados. Trata-se de avaliação complexa e que está em andamento. O Ibama produzirá um laudo com informações atualizadas após o fim do lançamento de rejeitos.

A destruição de Áreas de Preservação Permanente ocorreu no trecho de 77 quilômetros de cursos d’água da Barragem de Fundão até o Rio do Carmo, em São Sebastião do Soberbo (MG). Os impactos no ambiente marinho não foram avaliados até o momento.

E a responsabilidade social, onde fica?

Antes de mais nada precisamos lembrar que a Samarco pertence à Vale, que antes de ser privatizada (ou trocada por duas bananas e uma mariola no governo FHC), se chamava Vale do Rio Doce. Mas ela não é só da Vale. É controlada também pela anglo-australiana BHP-Billiton.

Em 2013, a Samarco participou da premiação do anuário Melhores e Maiores, da revista Exame, e foi eleita mais uma vez a melhor mineradora do Brasil. Na ocasião, o diretor-presidente Ricardo Vescovi explicou as razões do sucesso da empresa: qualidade da gestão, prática de valores empresariais, priorização da vida, cultura de planejamento e nível educacional dos empregados. A empresa voltou a ser premiada em 2014 e 2015, por crescer em situação econômica desfavorável.

Bela história, não é? Mas não condiz com a verdade.

a Samarco foi alertada sistematicamente, de 2011 a 2015, sobre problemas graves em suas estruturas, e simplesmente ignorou os laudos, assinados por técnicos contratados pela própria empresa, que apontavam os problemas. Fez obras, sim, segundo afirma a empresa, mas não resolveu a questão. O jornal O Estado de São Paulo dá destaque a este assunto, em matéria ampla, que pode ser lida em sua edição de 1º de janeiro.

Ao final, sobra para o povo a conta da tragédia. Pelas mortes, a Samarco pagará R$ 100 mil a cada família. Pelas casas destruídas, se propõe pagar ridículos R$ 20 mil. Ou seja, barato para a mineradora que ignorou laudos técnicos apontando a necessidade de obras para evitar o desastre.

Não é possível que o Brasil continue aceitando que multinacionais façam o que bem entendem na nossa terra, prejudicando nosso povo e nosso meio ambiente, sem que seus gestores sofram ações penais e cíveis rigorosas. Queremos justiça para os diretamente prejudicados e para toda a população brasileira, vítima dessa violência sem precedentes.

Além da garantia de que a Vale, a BHP-Billiton e a Samarco arcarão com todos os procedimentos necessários para despoluir as áreas afetadas e reconstruir a vida das pessoas vitimadas, queremos cadeia para os responsáveis. É o mínimo que se espera!

Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios/Divulgação

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