Na guerra e na política recorre-se a uma estratégia conhecida em sociologia como “dividir para conquistar” ou “dividir para reinar”. Basicamente trata-se de uma manobra de aquisição de controle e de enfraquecimento dos “adversários” por via da sua fragmentação ou desagregação. Através da divisão rompem-se as estruturas organizadas, tornando-as mais frágeis.
Essa estratégia tem sido usada há séculos contra os trabalhadores e trabalhadoras, para que não conheçam a sua verdadeira força de mobilização. Nos últimos anos, no Brasil, governos e empresários se uniram para intensificar os ataques, com foco no enfraquecimento da autoestima da classe trabalhadora, gerando medo e insegurança. Com isso, foi possível para esses governantes de direita, cujo objetivo final é privilegiar ainda mais os já privilegiados, aprovar reformas como a Trabalhista, que retirou direitos históricos e pulverizou o mundo do trabalho; e a famigerada reforma da Previdência, que condenou milhares ao trabalho eterno, sem direito objetivo à aposentadoria.
No Serpro, cuja diretoria segue à risca a cartilha da ultra direita, que não reconhece o papel da classe trabalhadora na produção e idolatra o dinheiro, essa estratégia chegou ao extremo com a adoção do KPI (Key Performance Indicator), ou, em português, Indicador-Chave de Performance. Tudo automatizado. Sem qualquer avaliação humanizada. E mais: quem não atinge a meta, pode ser submetido ao famigerado Processo Administrativo Disciplinar (PAD). E, segundo relatos de trabalhadores, “toda semana tem PAD”, inclusive conta-se que uma certa chefe que distribuiu PAD a torto e a direito, foi promovida com mérito, com dois níveis…
Em algumas áreas, segundo relatos, inclusive aqui no Rio de Janeiro, o desespero dos trabalhadores para atingir a meta (KPI) chegou a tal nível que um tentava passar a perna no outro, procurando usuários diretamente e individualmente para fechar negócios, sem passar pela equipe. Isso jogou trabalhador contra trabalhador por um bom período, até que finalmente a prática foi identificada e houve regulamentação.
A verdade é que o tipo de Gestão de Pessoas que o Serpro adota atualmente é ruim para a empresa, que tem seu corpo funcional pressionado por ameaças. É bem verdade que para esses gestores o que menos importa é a saúde laboral e psicológica dos trabalhadores ou mesmo o sucesso da empresa. O que eles querem é enxugar o Serpro para entregá-lo de mão beijada num processo de privatização que – já está provado – é prejudicial para a sociedade brasileira.