Nota da CUT-RJ: Aumento das barcas é tapa na cara do usuário

 

  Nos anos 80 e 90, num quadro de um programa humorístico de sucesso na TV, um personagem boquiaberto com algumas notícias alarmantes tornou famoso o bordão: “não precisa explicar, eu só queria entender”. Pano rápido. Em janeiro de 2012, os usuários das barcas também só querem entender qual é a mágica que faz com […]


Publicado por em 09/02/2012.

 

Nos anos 80 e 90, num quadro de um programa humorístico de sucesso na TV, um personagem boquiaberto com algumas notícias alarmantes tornou famoso o bordão: “não precisa explicar, eu só queria entender”. Pano rápido. Em janeiro de 2012, os usuários das barcas também só querem entender qual é a mágica que faz com que uma concessionária que presta um péssimo serviço à população acabe premiada com o maior aumento de tarifa de transportes desde que a praga da privataria tucana avançou sobre o patrimônio público fluminense e nacional.

A perplexidade é geral diante dos inacreditáveis 60,7% de reajuste  da  tarifa da empresa Barcas S/A . Não custa lembrar que a inflação do ano passado foi de pouco mais de 6%. O prêmio de consolação inventado pelo governo do estado, que consiste em subsidiar (tirar do erário e pagar à concessionária) a tarifa dos portadores do bilhete único, cujo valor cairia para R$ 4,50, não torna, de forma alguma, menos absurda a decisão. Seria cômica, se não fosse trágica e debochada, a justificativa, que une governo e concessionária, para o reajuste astronômico: o sistema opera com grave desequilíbrio econômico.

Alto lá. Até parece que a Barcas S/A não vem lucrando porque fez investimentos extraordinários para melhorar seus serviços, que comprou inúmeras lanchas novas, que investiu em pessoal, que se esmera em proporcionar cada vez mais segurança, que enfrenta concorrência. Nada disso, muito pelo contrário. Com a conivência, no mínimo suspeita, da Agetransp, a agência reguladora que deveria zelar pelos interesses da população, o serviço prestado pela concessionária virou sinônimo do que há de pior, menos pontual, menos seguro e menos profissional.

Quem tem mais de 40 anos viveu os tempos da Codert, o órgão do estado que cuidava da travessia Rio-Niterói. Numa boa : alguém lembra de embarcações à deriva na Baía de Guanabara naquela época? Dá para comparar o número de acidentes desse período com a triste sucessão de hoje em dia? E a pontualidade? Pergunte para algum quarentão se ele se recorda de ter chegado atrasado ao trabalho por conta de atraso das embarcações?

O fato é que até a tradicional estátua do índio Araribóia, da estação das barcas em Niterói, sabe que o marco da degradação do serviço é o processo de privatização das empresas públicas, tocado no Estado do Rio de Janeiro de forma insana e de costas para o interesse público pelo governo tucano de Marcello Alencar, nos anos 90.

E pensar que a tarifa das barcas durante um bom tempo oscilava entre 60% e 70% do valor das passagens dos ônibus que circulam no município. Com o megarreajuste, previsto para vigorar a partir de março, as barcas custarão mais do que o dobro dos ônibus.

O bravo deputado estadual Gilberto Palmares, que presidiu uma CPI na Alerj sobre os descalabros da Barcas S/A, anuncia que vai cobrar a realização de auditoria externa e independente nas contas da concessionária.

Claro que se trata de ótima iniciativa. Quanto mais cobrança e pressão pública, melhor. Mas o que o trabalhador e a trabalhadora continuam sem entender é por que diabos, no Rio, a incompetência, o descaso e o desrespeito ao usuário são premiados com aumentos milionários de tarifa. O governo do estado deve explicações. E como deve !

Direção da Central Única dos Trabalhadores no Estado do Rio de  Janeiro