Entrevista: Alexandre Anderson de Souza, presidente da Ahomar

 

Defensor da Baía de Guanabara, Alexandre Anderson, 41, mesmo após sofrer ameaças de morte, e ser incluído no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos da Presidência da República, segue firme na luta para que a exploração da Baía de Guanabara seja sustentável. Presidente da Associação Homens do Mar (Ahomar), Alexandre é reconhecido por […]


Publicado por em 18/07/2012.

Defensor da Baía de Guanabara, Alexandre Anderson, 41, mesmo após sofrer ameaças de morte, e ser incluído no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos da Presidência da República, segue firme na luta para que a exploração da Baía de Guanabara seja sustentável. Presidente da Associação Homens do Mar (Ahomar), Alexandre é reconhecido por inúmeras entidades internacionais e nacionais, e foi homenageado duas vezes na Rio+20, pela Alerj e pela ONU.

Alexandre compareceu à sede do Sindpd-RJ para fazer depoimento sobre a luta pela preservação da Baía, e deu entrevista exclusiva à revista Inform@ção. Confira:

Inform@ção – O que vem a ser a Ahomar?

Alexandre – A Associação representa pescadores artesanais de sete municípios da Baía de Guanabara.

Inform@ção – Qual é a principal luta da Ahomar?

Alexandre – Nossa luta é pela preservação da Baía de Guanabara, que está sendo envenenada por impactos socioambientais provocados pela indústria do petróleo e gás, em especial, pela Petrobras. Desde 2007 denunciamos sistematicamente as violações e crimes ocorridos na construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

Inform@ção – Quais são os sintomas desses impactos socioambientais na Baía?

Alexandre – No ano de 2000 houve um grande vazamento de óleo, que atingiu muito intensamente a Baía. A Petrobras, responsável pelo desastre ambiental, apenas disfarçou o resultado desse impacto. Os pescadores não foram indenizados nem houve limpeza do ambiente, pois o óleo acabou indo para o fundo do mar. Os projetos da petrolífera, ao contrário do que se esperava, aumentaram, criando mais poder impactante. O resultado é que a variedade de peixes diminuiu dramaticamente.

Inform@ção – A mídia tem dado visibilidade a crimes de morte ocorridos contra militantes da Ahomar. Como está o andamento das investigações policiais?

Alexandre – Nada tem sido desvendado. O primeiro assassinato aconteceu em 2009, o segundo em 2010, e ambos estão sem solução. Em junho deste ano, logo após a Rio+20, os companheiros pescadores Almir Nogueira de Amorim e João Luiz Telles Penetra (Pituca), membros da Ahomar, foram brutalmente assassinados. Eu mesmo já sofri mais de um atentado e as ameaças de morte são frequentes, principalmente quando intensificamos as denúncias sobre os impactos relacionados ao Comperj. Tudo indica que há interesses sendo contrariados, pois estão envolvidos nesse grande empreendimento não só a Petrobras, mas suas empreiteiras. O clima na Baía é de medo.

Inform@ção – O que a Ahomar espera da sociedade?

Alexandre – Solidariedade. Várias entidades nacionais e internacionais, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil e a Justiça Global, acabam de assinar um manifesto de Repúdio pelo Assassinato dos Pescadores da Ahomar, exigindo que as autoridades do Estado do Rio de Janeiro e do Estado Brasileiro adotem providências imediatas para investigar os fatos criminosos já amplamente denunciados.

Inform@ção – O que a Ahomar pretende fazer daqui para a frente?

Alexandre – Intensificar a mobilização e a luta, ampliando nossa área de abrangência para tratar também de questões que afetam os pescadores e a população. Mas para isso precisamos de muito apoio, que, diga-se de passagem, encontramos no Sindpd-RJ, na Fenadados e na CUT, que nos ajudaram a estender nosso trabalho para todo o estado do Rio de Janeiro, com a fundação do Sindicato dos Pescadores do Estado, o Sindpesca. Através da organização sindical é possível abordar mais pontualmente todos os problemas que envolvem a atividade da pesca artesanal, como acontece hoje nos estados de Santa Catarina e Piauí, onde o movimento é forte.